eu sinto saudade de uma que eu via por entre as frestas do meu quarto no sítio. era uma porta de madeira irregular que deixava vazar mais luz que o ideal pra dentro da escuridão do quarto. essa luz só me aparecia algumas vezes por semana. do outro lado da porta, de onde vinha a luz, ficava uma das três salas da casa, tinha uma lareira nunca usada e uma televisão tão usada quanto. essa luz era acesa somente para transitar para a cozinha. eu não tenho exatamente a certeza de porque sinto saudade dela, mas era boa, acho que ela me ajudava a tirar da minha cabeça as preocupações que alguém de 8 anos tem, que são bem maiores e reais do que se pensa. era um tempo bom, apesar de solitário.
mas a luz que eu acho que sinto mais falta eu não sei sequer se existiu de verdade. supostamente eu tinha 2 anos. lembro de tá sentando numa janela, coisa que gosto de fazer, e olhar a luz das 16h virar a luz das 17h sobre um campo bem ralo que eu acho que tinha atrás da casa. a luz das 16h que vira luz das 17h é uma transição muito bonitinha que eu sempre gostei. é uma luz mais quente, amarela, e mais fria, menos escaldante. evidencia as sombras longas enquanto pinta de dourado tudo que estiver perto do chão. faz qualquer olhar ficar mais sensível e qualquer coração acalmar. desde pequeno eu paro pra olhar o céu quando posso e algumas vezes eu volto a ver essa luz, a mesma daquele dia e dependendo do dia eu sorrio ou choro. até hoje, quando com a câmera na mão eu tento salvar essa luz, já cheguei perto mas nunca consegui de fato. vai ficar pra sempre na memória ou imaginação.