chuva

Durante 10 anos chuva foi significado de coisas muito boas. Morava no interior, numa serra e chuva significava plantas verdinhas, solo fresco, cheirinho de mato molhado por todo lado, animais saciando sua sede, friozinho gostoso, etc.

Chuva sempre foi sinônimo de coisa boa, considerando o calor cearense. O frescor da chuva e os poucos dias de "frio" que ela proporcionava eram motivos de bem-estar. Até que vim morar em Fortaleza: capital, concreto, prédios, avenidas alagadas e pessoas sem moradia... Hoje, com 30 anos, 20 de cidade e 10 de serra, é muito difícil, quando chove, entender meu sentimento de alegria e prazer pela chuva com o pensamento "isso é muito parasita da minha parte".

É curioso como foi o filme Parasita que realmente fixou esse sentimento em mim de maneira tão real.

Não parece haver muita solução. Para o resto da minha vida, sempre sentirei o frescor da vida no início da chuva para, logo depois, sentir a tristeza pela humanidade que as grandes cidades acabam gerando. No "meu" interior, todo mundo tinha casa, todo mundo tomava banho de chuva e todo mundo gostava de chuva... Mas eu só tinha 7 anos, então talvez nem fosse verdade. Era bom.

A cidade estraga tudo.